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A melhor maneira de viajar é sentir

A minha animadora viaja hoje para a Terra Santa, juntamente com um grupo de peregrinos.
Gostava muito de poder ir com eles, não indo, desejo-lhes a melhor viagem!

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Álvaro de Campos

Eu levanto-me hoje

Leonardo Da Vinci

Eu levanto-me hoje
Pelo poder do Céu:
A luz do Sol,
O brilho da Lua,
O esplendor do Fogo,
A rapidez do Raio,
A doçura do Vento,
A fundura do Mar,
A segurança da Terra,
A firmeza da Rocha.

Eu levanto-me hoje
Pelo poder de Deus em me guiar:
A força de Deus para me amparar,
A sabedoria de Deus para me ensinar,
Os olhos de Deus para olharem por mim,
Os ouvidos de Deus para me ouvirem,
A palavra de Deus para falar por mim,
A mão de Deus para me guardar,
O caminho de Deus para eu trilhar,
O escudo de Deus para me proteger,
O exército de Deus para me salvar
Das ciladas dos demónios,
Das tentações dos vícios,
De quem me queira mal,
Quer eu esteja longe ou esteja perto,
Só ou na multidão.

Cristo está comigo,
Cristo está à minha frente e está atrás de mim,
Cristo está em mim, Cristo está por baixo de mim e por cima de mim,
Cristo está à minha direita e à minha esquerda.
Cristo está comigo quando me deito,
Cristo está comigo quando me sento,
Cristo está comigo quando me ergo.
Cristo está no coração do homem que pensa em mim,
Cristo está nos lábios de quem fala por mim,
Cristo está nos olhos de quem me olha.

Eu levanto-me hoje
Pelo imenso poder de invocação da Trindade,
Pela minha crença em que Ele é Três,
Pela minha confissão que Ele é Um,
O Criador da Criação.

São Patrício (trechos do Grito e do Gamo)
SENHOR, Tu examinaste-me e conheces-me,
sabes quando me sento e quando me levanto;
à distância conheces os meus pensamentos.
À distância conheces os meus pensamentos.
Vês-me quando caminho e quando descanso;
estás atento a todos os meus passos.
Ainda a palavra me não chegou à boca,
já Tu, SENHOR, a conheces perfeitamente.
Tu me envolves por todo o lado
e sobre mim colocas a tua mão.
uma sabedoria profunda, que não posso compreender;
tão sublime, que a não posso atingir!
Sl 139, 1-3, 4-6

LOST IN TRANSLATION

Se alguma vez tentamos traduzir um texto, de qualquer outra língua que seja, para a nossa, apercebemo-nos, de certeza, que está nas nossas mãos a escolha das palavras e a forma como as vamos transmitir.

Aqui fica um exemplo.

If (Se) de Rudyard Kipling

Se és capaz de manter a calma quando

Toda a gente ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De acreditares em ti quando todos duvidam
E para esses no entanto encontrares uma desculpa;

Se és capaz de esperares sem desesperares,
Ou enganado, não mentires ao mentiroso,
Ou sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não pareceres bom demais ou pretensioso;

Se és capaz de pensares, sem que a isso só te atires;
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratares da mesma forma esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de veres mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas por que deste a vida estraçalhadas,
E refazê-las com o bem ainda pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única jogada,
Tudo quanto ganhaste na tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, voltares ao ponto de partida;
De forçares o coração, nervos, músculo, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: ”Persiste”,

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perderes a naturalidade,
E, de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo que existe no mundo
E, o que é mais – tu serás um Homem, meu filho!

Se (o mesmo poema, outra tradução)

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com ferramentas gastas pelo tempo

Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam

Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!

"If" (versão original)

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream--and not make dreams your master,
If you can think--and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings--nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much,
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And--which is more--you'll be a Man, my son!

Joseph Rudyard Kipling (Bombaim, 30 de dezembro de 1865Londres, 18 de janeiro de 1936) foi um autor e poeta britânico.

É mais conhecido por seus livros "The Jungle Book" (1894), "The Second Jungle Book" (1895), "Just So Stories" (1902), e "Puck of Pook's Hill" (1906); sua novela, "Kim" (1901); seus poemas, incluindo "Mandalay" (1890), "Gunga Din" (1890), "If"[2](1910) e "Ulster 1912" (1912); e seus muitos contos curtos, incluindo "The Man Who Would Be King" (1888) e as compilações "Life's Handicap" (1891), "The Day's Work" (1898), e "Plain Tales from the Hills" (1888).

É considerado o maior "inovador na arte do conto curto"[3]; os seus livros para crianças são clássicos da literatura infantil; e o seu melhor trabalho dá mostras de um talento narrativo versátil e brilhante[4], [5].

Foi um dos escritores mais populares da Inglaterra, em prosa e poema, no final do século XIX e início do XX[3].Foi laureado com o Nobel de Literatura de 1907, tornando-se o primeiro autor de língua inglesa a receber esse prêmio e, até hoje, o mais jovem a recebê-lo[6]. Entre outras distinções, foi sondado em diversas ocasiões para receber a Láurea de Poeta Britânico e um título de Cavaleiro, as quais rejeitou[7].Uma de suas obras o "Livro da Selva" foi adotado por Robert Baden-Powell, fundador do Escotismo como fundo de cena para as atividades com jovens de 7 à 11 anos, denominando os jovens dessa faixa etária como lobinhos.

in Wikipédia

"pois o nosso Evangelho não se apresentou a vós apenas como uma simples palavra, mas também com poder e com muito êxito pela acção do Espírito Santo; vós sabeis como estivemos entre vós para vosso bem.
Na verdade, partindo de vós, a palavra do Senhor não só ecoou na Macedónia e na Acaia, mas por toda a parte se propagou a fama da vossa fé em Deus, de tal modo que não temos necessidade de falar disso."
1ªCarta aos Tessalonicences 1, 3-5

A VIDA NÃO CABE NUMA TEORIA

A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.

MIGUEL TORGA, in DIÁRIO (1941)

«O maior e o primeiro mandamento»
Para poder amar muito a Deus no céu, é preciso, em primeiro lugar, amá-Lo muito na terra. O grau do nosso amor a Deus no fim da nossa vida será a medida do nosso amor a Deus durante a eternidade. (..)E com Santo Inácio: «Dá-me apenas o Teu amor e a Tua graça, que isso me basta». Faz com que Te ame e que seja amado por Ti; não desejo nem tenho mais nada a desejar senão isso.
Sexta-feira da 20ª semana do Tempo Comum
Comentário ao Evangelho do dia feito por
Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787), bispo e doutor da Igreja
Oitava homília para a novena de Natal
in http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=commentary&localdate=20110819

Falemos dos Homens, então!

DOS PÁSSAROS E DOS HOMENS

De pássaros não sei nada.
Também Sócrates diria que dos pássaros nada soube.
Porque um poeta é um filósofo. E um filósofo
é sempre um poeta.
E um poeta não deve saber dos pássaros
mas dos homens.

Eu confesso: de pássaros nada sei.
Sei dos homens. Mas pouco.
Por isso os estudo. Falo deles. Amo-os ou odeio-os.
Aliás, entre os homens raramente há sentimentos intermédios
como a indiferença, por exemplo.
Não consta que os pássaros os conheçam.

Os homens são muito importantes para um poeta.
Tão importantes como as palavras.
Direi mesmo mais importantes.
Porque não poderão existir palavras e poetas sem homens
mas os homens já existiam sem palavras e sem poetas.
E mesmo as palavras e a poesia sem homens não serviriam para nada.

Portanto temos
primeiro o homem
depois a palavra
e por fim o poeta.

Na poesia, é pois, fundamental, o homem.
Sendo assim, é natural que eu fale dos homens
e me recuse a falar dos pássaros
porque, também, para falar de um assunto
é preciso estudá-lo
conhecê-lo
e, como eu já disse, de pássaros não sei nada
prefiro falar dos homens embora deles não saiba tudo
mas vou analisando-os
tentando conhecê-los melhor
em vez de analisar e tentar conhecer os pássaros
porque me parece
não poder haver uma relação por aí além
entre o pássaro e o homem
nem os pássaros poderão resolver os problemas dos homens
(habitação, ensino, desemprego, etc.)
num um homem só que seja pode ser explorado
por um ou mais pássaros
nem os os pássaros fizeram explodir nunca uma bomba atómica
ou se juntaram em bandos para discutir
se hão-de construir centrais nucleares para matar alguns homens
em benefício de qualquer pássaro
ou ainda para conferenciar sobre a bomba de neutrões
que pode ao mesmo tempo matar os pássaros e todos os homens.

Por todas estas razões proponho que
a poesia fale do homem para o homem
porque:
a) falando dos pássaros a poesia fala só dos pássaros;
b) falando dos homens, a poesia fala de tudo
(até dos pássaros);
c) os pássaros nunca poderão entender a poesia nem os poetas nem os outros homens;
d) a poesia falando dos homens fará com que os homens possam entendê-la e entender não só os poetas como também os pássaros e, sobretudo, o que é fundamental, entenderem-se entre si o mais depressa possível.

JOAQUIM PESSOA, in PORTUGUÊS SUAVE (1979), in 125 POEMAS- 125 POEMAS - ANTOLOGIA POÉTICA (Litexa, 3ª ed., 1989)

A atitude defensiva distorce sempre. E, ao distorcer, desfoca a mensagem, não permitindo perceber sequer o que se está a passar. Resultado: leva ao descontrolo. Muito facilmente respondemos desproporcionadamente ás questões, mas em cima do acontecimento, com frequência nem nos apercebemos verdadeiramente do que se está a passar. (Laurinda Alves, Alberto Brito, sj in Ouvir, Falar Amar)
 
"Antes, peregrinos e manifestantes provocaram-se mutuamente com os primeiros  a cantar, rezar e a gritar "Benedicto, Benedicto", e os manifestantes a  repetirem palavras de ordem em defesa de um Estado laico e contra os gastos  originados pela visita do papa.
 http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/08/17/policia-carrega-contra-manifestantes-em-madrid

A loja do menino Jesus

MMV1988

Entrei e vi um anjo ao balcão... era lindo este anjo... o anjo tinha umas grandes asas, muito brilhantes e dele saia uma luz muito bonita, a mais bonita que já vi...
Maravilhada perguntei-lhe:
- Anjo, que vendes tu?
O anjo respondeu-me:
- Todos os dons de Deus.
Olhei em volta, devagar para conseguir ver tudo bem... e vi jarros de compaixão, frascos com fé, pacotes com esperança, caixinhas com amor, potes com sabedoria...
Ainda muito espantada, perguntei:
- E custam caro?
O anjo respondeu-me:
- Não, é tudo de graça!
Então, enchi-me de coragem e pedi:
- Por favor anjo, quero uns quilos de perdão, muito amor, uma caixa com fé, um bocado de felicidade e um pacote de salvação eterna para mim e para a minha família.
Então, o Anjo preparou um pequeno embrulho, tão pequeno que cabia na palma da minha mão, e entregou-mo.
Espantada, mais uma vez, perguntei:
-Está tudo aqui?
O Anjo respondeu sorrindo:
-Está sim, na nossa loja não vendemos frutos, apenas sementes!

(inspirado num pequeno que texto que li há muito tempo num jornal, de uma paróquia, mas que não trazia o nome do autor... nunca mais o encontrei, por isso recriei para os meus filhos... o quadro, pintei em 1988)