Archives for September 2011

I LIKE JESUS

Há umas semanas atrás o Paulo Duarte, Sj, enviou-me este post para traduzir, no âmbito MAGIS.

Achei muita graça, partilho, mas não sei quem foi o autor... apenas sei que deve ter sido publicado no blog MAGIS.

"No santuário de Loiola está a casa natal de Santo Inácio. Uma casa tipo torre, em cujo último piso está o quarto onde Iñigo de Loiola se converteu... Estes dias de MAGIS, muitos jovens têm passado por este local (hoje transformado em capela) e certamente se perguntaram o que se passou com aquele homem para dar uma volta tão radical. Era um soldado,  um cortesão, um homem ambicioso... e com um só golpe, atirou tudo pela borda fora...

Em que se converteu? Num louco? Num insensato? Num sonhador? Num ingénuo? Na realidade, num homem que decidiu tomar a sua vida a sério. Num homem que queria seguir Jesus.

Hoje, isto de seguir alguém é mais sofisticado e mais fácil. Seguimos uma equipa, um grupo musical ou um amigo. Até o fazemos no Twitter. Seguir alguém só custa um clic. É expressão de um certo interesse. Não complica a vida. Se mudamos de opinião fazemos outro clic e deixamos de seguir quem nos perturba ou incomoda.

Imagino-me? “Agora sou seguidor de Jesus de Nazaré”. Gosto dos seus “posts”... “Vinde a mim os que estais cansados...” “Bem-aventurados os pobres...”. Às vezes até os retwito... Mas se algum dia me inquieta, com isso de que há que carregar com a cruz, posso apagá-lo da minha lista.

Não é tão fácil! Esta coisa de seguir Jesus é uma aposta radical. Quer dizer complicar a vida, implicar-se com ele. Deixar-se seduzir e dar-se conta de que viver à sua maneira muda tudo. Cada dia, um pouco MAIS.

«Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que
nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. " Lc7, 7

As coisas nem sempre são o que parecem

uma raíz

Dois anjos viajavam quando pararam para passar a noite em casa de uma família abastada. A família foi rude, e recusou-se deixar os anjos descansar no quarto de hóspedes, antes oferecendo-lhes lugar numa cave, fria e húmida.

Enquanto faziam a cama, no chão duro dessa cave, o anjo mais velho viu um buraco na parede e reparou-o. Quando o anjo mais novo lhe perguntou porquê, respondeu-lhe simplesmente: “as coisas nem sempre são o que parecem”.

Na noite seguinte o par de anjos pernoitou na casa de uma família muito pobre, mas muito hospitaleira. Eram camponeses, que depois de partilharem a pouca comida que tinham, deixaram os anjos dormir na sua cama, para que tivessem uma boa noite de sono.

Quando acordaram, os anjos encontraram o camponês e a sua mulher lavados em lágrimas. A sua única vaca, cujo leite era a sua única fonte de receita, estava morta.

O anjo mais novo ficou furioso, e perguntou ao mais velho: “Como pudeste deixar isto acontecer? A primeira família tinha tudo, recusou ajuda e ainda assim tu ajudaste-a” acusou “a segunda família, tinha tão pouco, mas não hesitou partilhar o pouco que tinha, e tu deixaste a vaca morrer”.

Com muita calma, o anjo mais velho respondeu: “As coisas nem sempre são o que parecem: quando ficámos na cave da grande mansão, reparei que havia ouro escondido naquele buraco. Como o dono estava obcecado com a ganância, e sem vontade de partilhar a sua boa sorte, reparei o buraco, de forma a que não encontrasse o ouro.”

“A noite passada, enquanto dormíamos na cama do camponês, o anjo da morte veio para buscar a sua mulher. Eu dei-lhe a vaca, em vez da mulher. As coisas nem sempre são o que parecem.”

in spiritual short stories.com
 

"Na criação, Deus mandou que as plantas dessem os seus frutos, cada uma «segundo as suas espécies» (Gn 1,11): da mesma maneira, ordenou aos cristãos, que são as plantas vivas da sua Igreja, que produzissem frutos de devoção, cada um segundo a sua qualidade e vocação. A devoção, a vida cristã, deve ser exercida de formas diferentes pelo fidalgo, pelo artesão, pelo criado, pelo príncipe, pela viúva, pela jovem e pela mulher casada; e não só, mas também é preciso acomodar a prática da devoção às forças, às actividades e aos deveres de cada um em particular. [...] a devoção em nada prejudica quando é verdadeira; pelo contrário, tudo aperfeiçoa. [...] «A abelha, diz Aristóteles, tira o mel das flores sem as estragar», deixando-as inteiras e frescas como as encontrou. A verdadeira devoção faz ainda melhor, pois, não só não prejudica nenhum tipo de vocação nem actividade, mas, pelo contrário, honra-as e embeleza-as. [...] Com ela, cuidar da família torna-se mais pacífico, o amor do marido e da mulher mais sincero, o serviço do príncipe mais fiel, e todos os tipos de ocupação mais suaves e amáveis."

Comentário ao Evangelho do dia feito por  São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra e doutor da Igreja in Introdução à vida devota, I, cap. 3 in evangelho quotidiano.org

«Porque me chamais 'Senhor, Senhor', e não fazeis o que Eu digo? Lc6, 46

O BURRO

Há uns tempos encomendaram-me um bolo com as seguintes especificações: simples, mas sofisticado, minimalista e com linhas direitas, e um burro no meio.
Levei algum tempo a conciliar os conceitos.
Encaixar num mesmo bolo um animal que por definição é rústico, com um ambiente sofisticado, era o que de mais complicado se me afigurava...
Lá fiz, fizemos, e lá foi entregue. Gostaram muito e correu tudo bem.
Não pensei muito mais no assunto... gostei do resultado final, quem encomendou ficou contente, assunto encerrado.
Ontem, um amigo contou-me que tinha andado de burro.
Contou-me que foi uma grande lição de humildade que lhe foi concedida.
Bebi cada palavra do relato, e maravilhei-me com a simplicidade do raciocínio, e com o brilho dos olhos que me transmitiam aquela aprendizagem.
Sem o ter avisado, conto-vos, sem grandes preocupações de fidelidade às palavras dele, porque estas são as minhas, o que aprendi.

O burro é um animal que à partida não nos angaria os melhores dos sentimentos: sabemos perfeitamente a conotação que tem chamar burro a alguém... não é particularmente bonito, por isso são raras as crianças que o querem para animal de estimação ou o sucedâneo de peluche, não tem a elegância do cavalo, nem tão pouco a velocidade e brilhantismo dos garanhões.

Ainda assim, e depois de nos despirmos dos preconceitos, tem aquilo a que podemos chamar a melhor parte:
o burro gosta de servir o próximo, é assim que se sente bem
o burro sabe sempre o caminho de volta a casa.
o burro parecendo frágil, persiste com solidez, em cada passo.
o burro não tem pressa, mas chega ao destino a tempo e horas.
o burro não é bonito, mas é meigo, irradia ternura e preocupação com o seu dono.
o burro não se envergonha de si próprio, tem confiança.
o burro não procura o caminho mais rápido, antes o mais equilibrado e o que lhe é possível.

Do burro, parece-me que tenho ainda muito que aprender.

Não está o discípulo acima do mestre, mas o discípulo bem formado será como o mestre. Lc 6, 40

Hoje nasceu Maria

Natividade de Nossa Senhora

Hoje dou-me ao luxo de fazer um segundo post no nosso blog.

Sobre o dia de hoje...

A Natividade de Nossa Senhora é a festa de seu nascimento. É celebrada desde o início do cristianismo, no Oriente. E, no Ocidente, desde o século VII. O profundo significado desta festa é o próprio Filho de Deus, nascido de Maria para ser o nosso Salvador.

No seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, o Pe. António Vieira diz: "Perguntai aos enfermos para que nasce esta Celestial Menina. Dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança; os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes: para Senhora da Paz; os desencaminhados: para Senhora da Guia; os cativos: para Senhora do Livramento; os cercados: para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes: para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna: para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida: para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos: para Senhora da Graça; e todos os seus devotos: para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz (...), dirão que nasce (...) para ser Maria e Mãe de Jesus". (Apud José Leite, S. J., op. cit., Vol. III, p. 33.).

in evangelho quotidiano.org

Num exercício de personalização da oração, troquei as palavras da “Ave-Maria”. Se experimentarmos trocar as palavras, por sinónimos ou por outras que nos sejam mais queridas, sem perder, como pano de fundo o sentido desta oração, é engraçado dar-mo-nos conta de que redescobrimos sempre e outra vez o sim de Maria.

Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Mt 1, 23

A ÁRVORE DOS PROBLEMAS!

"Contratei um carpinteiro, por estes dias, para me ajudar a restaurar uns móveis.

Tinha terminado um primeiro dia complicadíssimo de trabalho: um pneu furado fê-lo perder uma hora de trabalho, a serra eléctrica avariou, e agora a sua carrinha recusou-se a pegar. Enquanto o levava a casa, ele permaneceu num silêncio carrancudo, o tempo todo.

Quando chegamos, convidou-me a entrar para conhecer a sua família. Quando ia a caminho da porta de entrada, parou por uns instantes junto de uma pequena árvore, tocando-a nas pontas dos ramos com ambas as mãos. Assim que abriu a porta de casa, deu-se uma verdadeira transformação. A sua cara carregada deu lugar a sorrisos imensos, abraçou os seus dois filhos pequenos, e deu um beijo à sua mulher.

Pouco depois acompanhou-me de volta ao meu carro. Passámos a árvore e não aguentei de curiosidade. Perguntei-lhe sobre o que tinha visto, havia pouco.

“Ah, essa é a minha árvore dos problemas” respondeu-me “sei que não posso evitar ter problemas no meu dia, no entanto tenho a certeza de uma coisa, esses problemas não pertencem a casa, onde estão a minha mulher e os meus filhos. Por isso todos as noites penduro-os nesta árvore quando chego a casa. Depois, na manhã seguinte, apanho-os outra vez.

Fez uma pausa: “Engraçado é” sorriu “que quando saio de manhã para os apanhar, não são, nem por sombras, tantos quantos os que me lembro de ter pendurado na noite anterior.”"

http://www.spiritual-short-stories.com/spiritual-short-story-108-The+Trouble+Tree.html

Antes de etiquetar…

Por estes dias corre a azáfama das etiquetas: é importante marcar tudo, para que quando comecem a Escola, nada se perca ou se confunda com alguma coisa que pertence ao outro. Isto pôs-me a pensar e lembrei-me de um TPC que tinha visto há algum tempo numa CVX espanhola. Era mais ou menos assim:

Muitas vezes precisamos de categorias, dão-nos segurança, permitem-nos chamar as coisas de uma forma ou de outra e ajudam-nos a compreendê-las. Na escola ensinam-nos a traçar mapas do mundo e das suas gentes, a marcar fronteiras.

As palavras, os conceitos, as realidades que estão por trás, são um “pau de dois bicos”. Se por um lado nos ajudam a situar e a compreender as coisas, por outro lado, corremos o risco de nos condicionarem o olhar, de nos adormecer a sensibilidade, de nos fechar os olhos perante a verdade primeira que nos une: somos, antes de mais nada, humanos, irmãos, e filhos de um mesmo Deus.

Antes de etiquetar rapidamente e marcar diferenças: macho ou fêmea, branco ou preto, de aqui ou dali, doutor ou iletrado, heterosexual ou gay, rico ou pobre, é fundamental olhar as caras, as vidas, a gente e dizer: humano, como eu, pessoa, que com um coração como o meu, sente, chora e ri, entristece-se e alegra-se, também sonha, também se desilude, também erra e também acerta. Também, á sua maneira, revela Deus, nosso Pai. Também tem sede de sentido, de um absoluto que abraça, de amor e de palavra.

Por isso, antes de etiquetar, descalcemo-nos perante o outro, que o terreno que pisamos é sagrado!

CVX Rosario (Espanha)

Quando Cristo, na vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória. Cl 3, 4