À procura de Deus

“Tenho andado à procura de Deus desde que me consigo lembrar, por muitas e muitas vidas, desde o princípio da existência. De vez em quando, eu via-O junto a uma estrela distante, e regozijei-me de alegria e dancei essa distância, pois embora grande, não era impossível de alcançar. E assim viajei e alcancei a estrela; mas ao tempo que a alcancei, Deus já se tinha mudado para outra estrela. E assim tem continuado desde há séculos.

O desafio é tão grande que eu continuo com esperança contra todas as probabilidades ... Eu tenho que O encontrar, estou tão absorvido pela procura. A própria procura é tão intrigante, tão misteriosa, tão encantadora, que Deus passou a ser quase uma desculpa - a procura passou a ser ela própria o objectivo.

E para minha surpresa, um dia alcancei uma casa numa estrela distante com um sinal pequenino à frente a dizer: “Esta é a casa de Deus”. A minha alegria era sem limites, finalmente eu tinha chegado! Comecei por apressar o passo, e subir os degraus, muitos degraus, que me conduziam à porta da casa. Mas à medida que ia chegando mais perto e mais perto da casa, um medo surgiu no meu coração. E assim que ia bater à porta, fiquei paralisado com um medo que nunca tinha sentido, com que nunca tinha pensado, com nunca tinha sonhado. O medo era:

Se esta é a casa de Deus, então, o que farei depois de O ter encontrado?

Peguei nos meus sapatos com as mãos, silenciosamente, e muito devagar, recuei, com medo que Deus pudesse ouvir o barulho e pudesse abrir a porta e dissesse “Aonde vais? Eu estou aqui, entra!”. E assim que cheguei aos degraus, fugi, como nunca tinha fugido antes, e desde então, tenho estado novamente na busca de Deus, procurando por Ele em todas as direcções e evitando a casa onde Ele realmente vive. Agora eu sei que a casa era para ser evitada. E continuo a procura, gozando a própria viagem, a própria peregrinação.”

Rabindranath Tagore

[Fonte: Rabindranath Tagore; http://www.spiritual-short-stories.com/spiritual-short-story-252-Searching+for+God.html]

Rabindranath Tagore (7 de maio de 1861 - 7 de agosto de 1941), alcunha Gurudev, foi um polímata bengali. Como poeta, romancista, músico e dramaturgo, reformulou a literatura e a música bengali no final do século XIX e início do século XX. Como autor de Gitanjali e seus "versos profundamente sensíveis, frescos e belos" sendo o primeiro não-europeu a conquistar, em 1913, o Nobel de Literatura,[2] Tagore foi talvez a figura literária mais importante da literatura bengali. Foi um destacado representante da cultura hindu, cuja influência e popularidade internacional talvez só poderia ser comparada com a de Gandhi, a quem Tagore chamava 'Mahatma' devido a sua profunda admiração por ele. Tagore foi talvez o único que escreveu hinos de dois países: Bangladesh e Índia: Hino nacional de Bangladesh e Jana Gana Mana. in WIKIPEDIA