Anjo emprestado… O fermento de Deus!

A capa do livro "Anjo Emprestado"

“deixou de ser um mundo e foi um outro (...)
Depois, sem dó nem piedade a vida começou ...”
Miguel Torga

Li ontem um livro que me tocou... não me foi recomendado por ninguém, mas recomendo, a quem se quer deixar interpelar por um amor sem fim de uma mãe por um filho, que nasceu com o “coração avariado”. Chama-se “Anjo emprestado” e a autora é a Mãe, Cristina Magalhães. Detentora de uma fé, encorajadora e contagiante, avassaladora, que segundo Nuno Lobo Antunes, “se sente como se o rio galgasse margens e fôssemos por ele arrastados num turbilhão em que falta o ar” in Prefácio. O livro e a sua história não pretendem mais do que ser um gesto de partilha duma mãe cuja vida continua, desde então à “beira-mágoa”...  a “silly season” tem destas surpresas... a mim, sempre me escorreram lágrimas, de cada vez que vi e vejo a Pietá, e Nuno Lobo Antunes, numa confissão que me arrasou de comoção, segreda-nos: “Na Pietá, a Mãe tem pelo menos o consolo de ter no seu colo o filho, que mesmo homem, pende inerte, como um recém-nascido que dorme. Neste livro, sente-se  aconchego do colo que espera pela criança, mas os braços permanecem imóveis porque o menino não pode ser abraçado.”
Esta Mãe, é na sua partilha, na sua presença,  O FERMENTO DE DEUS.

“Os que se afadigam com duros fardos,
Os que se esgotaram entre canseiras sua porção:
Como ramo que reverdece terão ainda vigor.

Os de ânimo abatido levantarão o olhar;
Uma estrela guiará nossos passos dispersos:
Não mais seremos expostos à solidão.

Ao que chora será dito: “alegra-te!”

Ao da margem alguém gritará:
“junta-te ao júbilo da dança!”

Os que lamentam tesouros gastos
Reaprenderão a esperar pelo orvalho.

E em qualquer canto da terra,
Quem reparte a vida e a beleza
Será chamado o fermento de Deus.”

José Tolentino de Mendonça in Um Deus que dança