Apanhado da Assembleia Regional da CVX Sul

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Testemunhos:


Raquel Veiga,
Grupo__

Geral – Pertença a uma comunidade maior, em movimento (não estática), à procura do seu caminho; o caminho comprometido de todos; perceber a dimensão do compromisso CVX

A Assembleia Regional da CVX Sul (AR) nos passados dias 17 e 18 de outubro representou a minha primeira participação num encontro alargado da CVX Sul. Depois de um ano de iniciação e de três anos de grupo Hi-Fi, finalmente encontrei o tempo de me abrir à comunidade maior, o que tinha acontecido apenas em esporádicas participações na missa de Domingo no Lumiar e na Via Sacra.

Passados os dias necessários para mastigar o sumo da AR, estou agradecida por ter participado. Como frutos, noto essencialmente a consciência de pertencer a uma comunidade maior, em movimento, à procura do seu caminho e procurando centrar-se bem e fielmente em Cristo Jesus. Guardo o desejo de bem e de crescimento da CVX revelado pela comunidade alargada, particularmente na figura da ER, visível desde logo pela escolha do Compromisso como tema forte para o fim de semana.

Perguntar-me-á que não esteve: "Mas que foi então que fizeram por lá?" Ora, principiámos por trazer o coração ao seu lugar com a Eucaristia que abriu a AR. Fomos depois desafiados pelas palavras do P. João Goulão a pensar nos comos e porquês de nos 'Comprometermos': “Perante Deus que se compromete comigo, há sempre a nossa opção”. Aprendi que ao escolher o Amor como critério de vida estou a comprometer-me com Ele conscientemente e estou mais perto de um triângulo virtuoso em que se alinha aquilo com que me comprometo, aquilo que penso e digo e aquilo que faço. O ciclo das escolhas começa sempre com uma opção. À opção segue-se a praia da paixão onde tudo é fácil, quentinho e bom, mas quando a rotina se instala, não há novidade e as dúvidas e o cansaço começam a assaltar o que antes era inquestionável. Perante a dúvida é que se joga uma opção de fundo e é aí que necessito de voltar ao princípio e exercitar a leitura da vida, a partir do Senhor. Do meu olhar filtrado a partir d’Ele e da minha abertura ao Espírito virá a capacidade de me regenerar e manter o compromisso com o mundo à minha volta.

A oração individual da manhã convidou, a partir da leitura de uma passagem do livro de Eclesiastes (Ecl 3, 1-8), a perceber em que tempo estou neste ciclo do compromisso, particularmente em relação à CVX. Trago deste tempo e da partilha em grupo a imagem da Cruz como o “custo” da fidelidade de aceitar o Plano A de Deus para mim. Guardo a generosidade da partilha de cada um, reunidos em grupos aleatórios, fora da “zona de conforto” do grupo pequeno já conhecido. Mais tarde, ao final da tarde, cada grupo viu o seu animador responsável dar eco das partilhas ali havidas ao grupo grande.

O almoço descontraído preparou-me para a tarde de testemunhos, onde pude conhecer a vida comprometida, em diferentes dimensões, de cinco membros da CVX, alinhados no desejo de unificar a vida.

Da vida comprometida com a profissão guardo o perceber como, no trabalho, as pessoas que me rodeiam podem ser também comunidade e como as decisões em contexto profissional têm de ser norteadas pela busca do bem maior. Para eleger com qualidade importa praticar a atenção e viver em constante discernimento.

O compromisso com a família foi testemunhado com muita simplicidade e profundidade, tocando-me particularmente pela verdade e humildade da partilha. Não há famílias perfeitas e o dia a dia é exigente, mas acreditar no projeto da família é também acreditar num mundo melhor.

Fechámos o dia com a explicação do caminho de discernimento que será proposto que todos os grupos CVX em Portugal façam até à Assembleia Nacional em maio de 2017. Trata-se de intuir a vontade de Deus para a CVX em Portugal e nada melhor que fazê-lo em comunidade, numa forma colaborativa e organizada, mas sobretudo com atenção e abertura de coração ao sopro do Espírito.

A manhã de domingo foi ocupada com a explicação do que são os compromissos temporários e os compromissos permanentes em CVX. Ficámos a saber que existe um Guião no site da CVX para que os grupos se possam preparar para os compromissos com tempo e modo. Este caminho de preparação pode ser feito em grupo mas o compromisso é individual e, ainda que feito em partilha com a comunidade, é um compromisso com o Senhor, é um reconhecimento de que a vida norteada pela experiência da CVX, marcada pelo crescimento e pelo magis próprios da espiritualidade inaciana, frutifica de forma semelhante ao grão de mostarda.

Houve direito a testemunhos de gente agradecida e comprometida com a CVX e houve mesmo três membros da CVX a, na missa celebrada pelo P. Domingos, fazerem os seus compromissos temporários!

Conclusão da AR: da próxima... não falte! Já viu o que perdeu? 😉

 


Filipa Ferrão
Quarta Sim, Quarta não

A AR deste ano teve como pano de fundo a importância do compromisso na vida de cada um de nós, como lidamos com o compromisso e a forma como nos comprometemos, dentro e fora da CVX.
Para isso, foram-nos proporcionados vários tempos de oração, reflexão, partilha que nos permitiram “olhar” e “sentir” os compromissos já assumidos (e porventura os que rejeitámos), bem como “discernir” eventuais compromissos futuros (ou iniciar o discernimento…).
O P. João Goulão interprelou-nos de uma forma mais global sob o título “Comprometer-se”: um cristão é, por definição, uma pessoa comprometida com Deus e com o próximo. “Não é possível ser colaborador de Deus sem compromisso com a pobreza, com a justiça social, com…”. Mas chamando a atenção que a dúvida da opção faz parte do compromisso. E apresentou-nos um sugestivo “ciclo do compromisso” para servir de GPS:

Depois ouvimos os “Testemunhos Comprometidos” de cinco membros da CVX. A forma como integram a fé na sua vida profissional, familiar, na política, na área social e na ciência. Como procuram viver inteiras como cristãs (eram só mulheres!!!) com fidelidade à sua identidade cristã, com perseverança, comprometimento, resiliência e capacidade de regeneração. Como assumir certos compromissos sendo comprometidas com Jesus. Saber que os compromissos também trazem sacrifícios, em nome de um bem maior.
A parte da tarde foi dedicada às duas formas “institucionais” de compromisso em CVX: compromissos temporário e permanente. Numa das sessões, foi-nos explicitada a essência de ambos os compromissos numa caminhada em CVX (porquê, quando e como), ressaltando que são compromissos individuais com Deus em que a CVX é o espaço eclesial mediador desse compromisso. Também nos foi dito que a Comunidade tem o direito de ver, ouvir e sentir o nosso compromisso e, por isso, é assumido publicamente. Nesse sentido, não só ouvimos os testemunhos de duas pessoas que fizeram o CT e de outras duas que fizeram o CP (partilhando o que as levou à decisão e o que sentem que o compromisso assumido lhes trouxe), como assistimos ao CT de três membros da CVX durante a Eucaristia.
Na AR ainda fomos informados sobre a preparação em comunidade da Assembleia Nacional de 2017 e de alguns números actualizados sobre a CVX: 25.000 membros em 60 países, nos 5 continentes; 1.416 membros em Portugal (3ª maior comunidade nacional) em 136 grupos; 755 membros na CVX Sul em 70 grupos.
Três frases ouvidas na AR 2015 que ainda ecoam: “Viver a vida comprometida é fazer a experiência de um Deus que se compromete”. “Coragem para me comprometer”. “Orientar os compromissos para o fim para que fui criado”.


Dirce Serafim
ABBA

Temos mais uma oportunidade para agradecer a todos os elementos da Equipa Regional (equipa renovada que continua a tradição da anterior), verdadeiros protagonistas da realização do primeiro encontro deste ano, mas para agradecer também a todos os elementos da nossa comunidade CVX-Sul que estiveram presentes, pois todos os participantes foram atores. Até algumas crianças contribuíram com sorrisos e olhares tão límpidos e abertos à surpresa que só podiam ser um convite ao clima já habitual de convívio simples e sem formalismo, mas talvez também um convite a ir sempre mais longe e mais fundo, em busca de mais.

Logo no início (uma ótima ideia começar e terminar com Eucaristia), o desafio a irmos caminhando com Jesus, perseverando no caminho iluminado pelos seus critérios, conscientes de que o compromisso com eles pode conduzir à cruz. Tocou-me profundamente a clareza do P. Domingos quanto a isso. Não somos cristãos se não estivermos dispostos a carregar a cruz que Cristo carregou, consequência da não transigência com o mal e do empenhamento na construção de um mundo mais justo e mais fraterno. O sofrimento, a doença, as dificuldades naturais da vida podem ser aprendizagem do caminho, mas só são verdadeira cruz quando preparam para nos comprometermos a percorrer o caminho de Jesus e a sofrer com Ele as consequências. Só então saberemos o sentido cristão da cruz e talvez então possamos também saborear melhor a presença d’Ele e dos que nos conduzem até Ele. Claro que é uma luta de toda a vida—lembrou o P. João Goulão—como a luta de Jacob com o Anjo para saber quem é Deus, para saber como é Deus. Mas a experiência de um Deus que não desiste, que se compromete connosco, ensina-nos que o amor joga-se na opção e no compromisso. Por isso, sobretudo em determinadas fases (rotina, fracasso, dúvida) é importante refontalizar, voltar à fonte, dar oportunidade à ação do Espírito (EE, oração, acompanhamento…) para “decantar a vida”, lê-la de forma a ver como nos tornarmos em tudo colaboradores de Jesus.

Estava aberto o caminho para dar graças por tanto bem recebido via comunidade. No final, a Tintão, a propósito do Compromisso em CVX, lembrava que é bom reconhecermos que os nossos pequenos grupos beneficiam, desde a sua formação, da comunidade alargada (é ela que se empenha em proporcionar a cada grupo animadores e guias, oportunidades de formação…). Os testemunhos de pessoas que reconhecem a CVX como mediadora desta forma comprometida de caminhar tornaram bem claro que exigência não é sinónimo de rigidez, nem humildade é sinónimo de acomodação ou paralisação. Nas várias áreas da vida e no “tempo comum” é possível tomar opções de forma refletida, rezada, discernida, que vão por vezes contra a corrente, e vivê-las de forma serena mas entusiasmada. Foi bom ouvir, por exemplo, que ser, a tempo inteiro, mãe e cuidadora da família nuclear e alargada, pode ser uma opção no tempo atual; utilizar critérios de bem comum para escolher um tema de investigação pode não ser o mais fácil, mas é possível; oferecer o que temos a mais (roupas e brinquedos, mas também um carro…) pode sempre desencadear uma onda de maior generosidade e contribuir para tomarmos mais consciência de que o que temos a mais não nos pertence.

Foi bom ouvir da parte de quem já descobriu que a sua vocação eclesial passa pelo carisma CVX, pelo seu estilo de vida simples, partilhado e avaliado em comunidade, discernindo continuamente para eleger o bem maior (mais necessário, mais urgente e mais universal) e decidiu, por isso, afirmá-lo em Comunidade—Compromisso Temporário—que é útil definir o espaço, aquietar a dispersão e comprometer-se a pôr os meios para se focar mais num estilo de vida mais apostólico. Foi bom ouvir que, quando tudo passa a fazer mais sentido, quando se impõe o desejo de “deixar de ser cristão de bancada” para trabalhar na construção do Reino, então chega o momento de fazer o Compromisso Permanente, pois é tempo de, quotidianamente, ser apóstolo. É tempo de confirmação do compromisso com o Senhor. É com Ele o compromisso, e a Comunidade de Vida Cristã é simplesmente a mediadora escolhida para ajudar a perseverar na missão.

E como não há como os poetas para condensar em frases curtas doses grandes de sentido, a frase de Gedeão “sou amador da existência não chego a profissional” foi mote para lembrar a alguns que somos todos convidados a viver a vida sem amadorismos. Há que vivê-la de forma empenhada, comprometida. Não se trata de um convite a sermos profissionais sisudos de espiritualidade ou de CVX (também podem ter lugar), mas profissionais de uma existência com um horizonte de sentido cristão, logo, entusiasmado, fecundo, feliz.