As coisas nem sempre são o que parecem

uma raíz

Dois anjos viajavam quando pararam para passar a noite em casa de uma família abastada. A família foi rude, e recusou-se deixar os anjos descansar no quarto de hóspedes, antes oferecendo-lhes lugar numa cave, fria e húmida.

Enquanto faziam a cama, no chão duro dessa cave, o anjo mais velho viu um buraco na parede e reparou-o. Quando o anjo mais novo lhe perguntou porquê, respondeu-lhe simplesmente: “as coisas nem sempre são o que parecem”.

Na noite seguinte o par de anjos pernoitou na casa de uma família muito pobre, mas muito hospitaleira. Eram camponeses, que depois de partilharem a pouca comida que tinham, deixaram os anjos dormir na sua cama, para que tivessem uma boa noite de sono.

Quando acordaram, os anjos encontraram o camponês e a sua mulher lavados em lágrimas. A sua única vaca, cujo leite era a sua única fonte de receita, estava morta.

O anjo mais novo ficou furioso, e perguntou ao mais velho: “Como pudeste deixar isto acontecer? A primeira família tinha tudo, recusou ajuda e ainda assim tu ajudaste-a” acusou “a segunda família, tinha tão pouco, mas não hesitou partilhar o pouco que tinha, e tu deixaste a vaca morrer”.

Com muita calma, o anjo mais velho respondeu: “As coisas nem sempre são o que parecem: quando ficámos na cave da grande mansão, reparei que havia ouro escondido naquele buraco. Como o dono estava obcecado com a ganância, e sem vontade de partilhar a sua boa sorte, reparei o buraco, de forma a que não encontrasse o ouro.”

“A noite passada, enquanto dormíamos na cama do camponês, o anjo da morte veio para buscar a sua mulher. Eu dei-lhe a vaca, em vez da mulher. As coisas nem sempre são o que parecem.”

in spiritual short stories.com
 

"Na criação, Deus mandou que as plantas dessem os seus frutos, cada uma «segundo as suas espécies» (Gn 1,11): da mesma maneira, ordenou aos cristãos, que são as plantas vivas da sua Igreja, que produzissem frutos de devoção, cada um segundo a sua qualidade e vocação. A devoção, a vida cristã, deve ser exercida de formas diferentes pelo fidalgo, pelo artesão, pelo criado, pelo príncipe, pela viúva, pela jovem e pela mulher casada; e não só, mas também é preciso acomodar a prática da devoção às forças, às actividades e aos deveres de cada um em particular. [...] a devoção em nada prejudica quando é verdadeira; pelo contrário, tudo aperfeiçoa. [...] «A abelha, diz Aristóteles, tira o mel das flores sem as estragar», deixando-as inteiras e frescas como as encontrou. A verdadeira devoção faz ainda melhor, pois, não só não prejudica nenhum tipo de vocação nem actividade, mas, pelo contrário, honra-as e embeleza-as. [...] Com ela, cuidar da família torna-se mais pacífico, o amor do marido e da mulher mais sincero, o serviço do príncipe mais fiel, e todos os tipos de ocupação mais suaves e amáveis."

Comentário ao Evangelho do dia feito por  São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra e doutor da Igreja in Introdução à vida devota, I, cap. 3 in evangelho quotidiano.org

«Porque me chamais 'Senhor, Senhor', e não fazeis o que Eu digo? Lc6, 46