Esta coisa da contemplação da vida pública de Jesus é deveras desconcertante... pelo menos para mim! Tem dias em que O acho provocador e prevaricador da lógica humana tal qual ela se nos é compreensível.
Bom... aceito o argumento, de que isso é o que é suposto... mas a verdade é que inverter toda a lógica racional, perverter por completo a matemática humana e ainda sorrir no fim, deixa-me desolada.
Partilho, então, o que se me ocorreu nestes últimos dias, a propósito das várias leituras e evangelhos. Não é, de todo, aconselhável a leitura destas reflexões, porque meramente teóricas, estéreis e imbuídas de alguma revolta e desolação, próprias de quem sente que falta muito caminho...
Na leitura de episódios como o de hoje, e outros como o do filho pródigo, o do bom samaritano, o da mulher adúltera, e outros que tais, sistematicamente os critérios humanos de justiça, são deitados por terra: ora, se a lei mandava apedrejar, porque não se cumpriu a lei? se o critério máximo é o de justiça, então estou totalmente de acordo com o filho mais velho: que raio de direito tem o mais de novo, aquele que gastou toda a herança com prostitutas, de ser acarinhado pelo Pai, que, além de feliz com o seu regresso, ainda lhe coloca manto, anel e sandálias, e manda fazer uma festa de arromba com tudo o que há de melhor?
Já trabalhados e lidos estes textos, muitos de nós sabemos a resposta correcta: é só um copo de JB, para que tomemos um golo, e de um só golo, matamos a charada.
JB, whisky comum, ao alcance de todos, é uma mnemónica brilhante que me foi dada a conhecer pelo Afonso Seixas, sj, recentemente. Trata-se dos critérios humanos por oposição aos critérios divinos: Justiça vs Bondade.
A chave para a compreensão destes textos não é nem a de critérios de justiça, nem muito menos de linearidade matemática, mas antes são critérios de bondade divina que pautam a actuação de Jesus.
Por isso, e apesar de negado por Pedro três vezes, ele volta-se, olha e perdoa, não por uma qualquer justiça, mas porque nos seus critérios de bondade e misericórdia não suporta que Pedro se sinta só e perdido.
Assim, revendo as leituras à luz destes critérios, compreendemos rapidamente que importa mais a ovelha perdida ser encontrada, o filho que regressa, a mulher que é perdoada, do que uma qualquer lei justa.
Matematicamente, dispensam-se as sequências de Fibonacci da vida: No filho pródigo a equação correspondente é 2-1=2, aquele filho, nunca deixa de ser filho. Em Isaías 49, 14, a equação é 1-1=1, ainda que uma mãe esqueça o seu filho, Deus não o esquece, em Jo 5, 17, 1+1+1+1+1+1+...=1, pois Deus vive continuamente em cada um de nós e revê-se continuamente em cada um dos Seus filhos, como se únicos fossem, ao longo de todo o tempo. Sistematicamente ao longo de toda a Bíblia, 1=1+1+1+1+..., pois Deus é em todos e cada um de nós, mas é só um. Este é o mistério.
Mais um golo de JB e tudo fica claro...