Como posso eu, hoje, ser anjo?

Hoje é dia de S. Miguel, S. Gabriel e S.Rafael, arcanjos.
E uma pergunta me interpelou: como posso eu, hoje, ser anjo?
Todos nós somos de alguma forma anjos, mensageiros... discernir na forma como o fazemos é a questão... e hoje? hoje, sou anjo?

Eu sou anjo na alegria,
Estou alegre porque sei que não estou só,
Sou anjo, porque compartilho a vida, o tempo, os sonhos com os outros,
Sou anjo, quando lhes digo que não estamos sós.
Sou anjo, quando aprecio as coisas simples: um passeio, um café, um sorriso.
Sou anjo, quando sou capaz de rir de mim mesma.
Sou anjo quando percebo que me olhas com ternura e então rio por dentro e por fora.
Sou anjo porque me sei livre, livre para se quiser voltar-Te costas, e sei que me vais deixar fazê-lo.
Sou anjo porque sei que não me fechas a porta e experiencio a tua misericórdia infinita em cada regresso.
Sou anjo quando reconheço no outro o meu irmão, e abraço-o na sua fragilidade, resistindo a todas as tormentas.
Sou anjo porque creio firmemente que no fim o Bem se impõe.
Sou anjo e acredito ser causa de alegria e desejo transmitir aos que me rodeiam toda esta paixão pela vida, ainda que por vezes tenha poucas forças para o fazer.
Sou anjo e sigo este caminho, porque é o caminho bom, e estou certa disso.
Sou anjo e sinto pelo caminho a Voz que me segreda com um carinho imenso: vai e dá aos outros esta tua alegria.

Adora e Confia
Vive feliz
Suplico-te
Vive em paz
Que nada te altere
Que nada seja capaz de te tirar a paz.
Nem o cansaço psicológico.
Nem as tuas falhas morais.
Faz com que brote,
e conserva sempre sobre o teu rosto
um doce sorriso,
reflexo daquele que o Senhor
sempre te dirige.
E no fundo da tua alma coloca,
antes de mais nada,
como fonte de energia e critério de verdade,
tudo aquilo que te encha da paz de Deus.
Recorda:
Tudo o quanto te deprima e inquiete é falso.
Asseguro-te em nome das leis da vida
e das promessas de Deus.
Por isso,
Quando te sentires pesado e triste,
Adora e Confia.
(T.eilhard de Chardin)

“Donde me conheces?” Jo 1, 48

Junto ao mar…

Faço uma caminhada junto ao mar ou à foz do rio pela manhã.

Felizmente são raros os dias em que o sol não brilha e consumo essa luz para recarregar baterias.

Usualmente fazia-o de óculos escuros, porque é cedo e os meus olhos não se habituaram  ainda à claridade.

Reparei, que, ultimamente, tenho deixado os óculos escuros para trás. Começou por ser inconsciente, mas acabou por se tornar voluntário, propositado.

Parto, e vou... vou contra o sol, ofuscada pela luz da madrugada... com o diminuir dos dias a luz vai ficando mais suave e a transição é menos agressiva... mas até agora, ia contra o sol, ofuscada: abro e fecho os olhos, entreabro e semicerro, como quem busca a luz, mas receia a sua intensidade... como quem reza e pede a Deus... pede por mais Deus na vida, sem que se aperceba que também isso tem um preço a pagar: há vezes em que a intensidade é um excesso, em que coração e alma parecem não aguentar o peso dessa Presença. E ainda assim continuo... continuamos...

Volto, com o sol pelas costas. Já reconciliada com a intensidade, e agora com a luz como companhia, iluminando tudo o que me rodeia.

Com calma, apercebo-me de novas presenças, de novos contornos, todos os dias diferentes... desfruto de cada um em que reparo, consoante a luz me guia.

E, então, agradeço, a Sua presença na minha vida.

“Vem comigo” Mt 9, 9

Antes de etiquetar…

Por estes dias corre a azáfama das etiquetas: é importante marcar tudo, para que quando comecem a Escola, nada se perca ou se confunda com alguma coisa que pertence ao outro. Isto pôs-me a pensar e lembrei-me de um TPC que tinha visto há algum tempo numa CVX espanhola. Era mais ou menos assim:

Muitas vezes precisamos de categorias, dão-nos segurança, permitem-nos chamar as coisas de uma forma ou de outra e ajudam-nos a compreendê-las. Na escola ensinam-nos a traçar mapas do mundo e das suas gentes, a marcar fronteiras.

As palavras, os conceitos, as realidades que estão por trás, são um “pau de dois bicos”. Se por um lado nos ajudam a situar e a compreender as coisas, por outro lado, corremos o risco de nos condicionarem o olhar, de nos adormecer a sensibilidade, de nos fechar os olhos perante a verdade primeira que nos une: somos, antes de mais nada, humanos, irmãos, e filhos de um mesmo Deus.

Antes de etiquetar rapidamente e marcar diferenças: macho ou fêmea, branco ou preto, de aqui ou dali, doutor ou iletrado, heterosexual ou gay, rico ou pobre, é fundamental olhar as caras, as vidas, a gente e dizer: humano, como eu, pessoa, que com um coração como o meu, sente, chora e ri, entristece-se e alegra-se, também sonha, também se desilude, também erra e também acerta. Também, á sua maneira, revela Deus, nosso Pai. Também tem sede de sentido, de um absoluto que abraça, de amor e de palavra.

Por isso, antes de etiquetar, descalcemo-nos perante o outro, que o terreno que pisamos é sagrado!

CVX Rosario (Espanha)

Quando Cristo, na vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória. Cl 3, 4

A escalada

Favela e Músicos, Candido Portinari

A escalada, é uma oração que escrevi, para a catequese... a ideia era surpreender as crianças de 10 anos com um instrumento que lhes é familiar, ainda que não o soubessem desde o início.
Frequentemente, a catequese é "uma seca", ouvia-os dizer...
No final deste encontro, quando desvendei a fonte de inspiração da oração, os olhos deles brilhavam, de espanto, e nessa surpresa, tive a certeza que qualquer coisa, naquele dia, entrou...
Gosto desta música, e acho que é bom, é positivo, procurarmos Deus no mais improvável, no mais pequenino, sem preconceitos, com todo o humor, com que Ele nos abençoa os dias da vida.
Hoje, a propósito das leituras do dia, voltei a reescrever e deixei-me embalar pela voz dela... por mais encanitante que a pessoa em si me possa parecer...
Convosco partilho:

A ESCALADA
Muitas vezes sinto que quase posso ver
o cimo da montanha que estou a escalar,
No sonho, que estou a sonhar.
mas, baixinho, vou ouvindo uma voz pelo caminho
dentro da minha cabeça que me diz:
Que nunca o vou alcançar.

Há momentos em que
Cada passo que dou
Cada movimento que eu faço,
me parece
Perdido, sem direcção
São momentos em que a fé me treme,
Em que me deixo abater pela desolação.
Mas sinto, sempre sinto, que tenho que continuar a tentar
Tenho que manter a minha cabeça erguida e caminhar.

Haverá sempre outra montanha
Vou sempre querer que ela se mova,
Vai ser sempre uma batalha difícil
E por vezes vou ter que perder.

Não é sobre o quão rápido eu lá chego
Não é sobre o que me espera quando lá chegar
Ao outro lado.
Hoje eu rezo, só,
Pela escalada.

Pelas lutas que todos os dias enfrento,
Pelos caminhos que eu escolho e vou escolhendo,
Mesmo quando caio,
Não me quero vencida.

Ainda posso não saber que
estes são os momentos que
mais vou lembrar.

Mas sinto, Senhor,
Que tenho que continuar
Que tenho que ser forte
Levantar e caminhar.

Haverá sempre outra montanha
Sempre hei-de querer que ela seja menor,
Sempre hei-de achar cada luta, a mais difícil
Vezes haverá em que terei de perder

Mas no fundo sei, que o importante não é o quão rápido eu lá chego
É o que eternamente me espera do outro lado
Por mais lenta que seja a minha escalada.

Aqui fica a versão original de quem me inspirou... para quem a abrir, não vale fechar, sem dar uma oportunidade à música e à rapariga que a canta... 🙂

http://www.youtube.com/watch?v=jpTYG_Sqqdg

Por isso, não vos deixeis condenar por ninguém,
no que toca à comida e à bebida,
ou a respeito de uma festa,
de uma Lua-nova ou de um sábado.
Tudo isto não é mais que uma sombra das coisas que hão-de vir;
a realidade está em Cristo.
Não vos deixeis inferiorizar por quem quer que seja
que se deleite com práticas de humildade ou culto dos anjos.
É gente que, dando toda a atenção às suas visões,
em vão se gloria com a sua inteligência carnal.
Cl 2, 16-18

As minhas três velas

Muitas vezes rezei pedindo a Deus que iluminasse o meu caminho. Pedia-lhe 3 velas.

Eram 3 velas, pois cada uma tinha a sua função conforme fosse percorrendo a estrada que a vida configura. A primeira vela que pedia era para que iluminasse os obstáculos, de forma a que os conseguisse ver, tirar medidas, e não tropeçar. A segunda, era uma vela para que visse que há caminho depois dos obstáculos, para que me desse alento, puxasse por mim e me dissesse que sou capaz, me fizesse querer seguir em frente, ultrapassando tristezas e dúvidas, todas as adversidades. A terceira vela que pedia, seria para me dar luz, como quem dá a mão para que continuemos juntos o Caminho.

Deus, no seu imenso amor paternal que me tem, deu-me as três velas, que hoje agradeço. A minha filha mais velha, cuidadosa, que tudo observa e que me chama a atenção para o que não está como seria de esperar, com uns olhos brilhantes e sorriso tímido, mas sincero, iluminado. A segunda filha que me foi confiada, é corajosa, destemida, é quem está do outro lado do obstáculo, porque já o passou e do outro lado espera por nós, chama-nos, cativa-nos e desvia a nossa atenção de qualquer dificuldade, com uns olhos risonhos, que nos alegram e nos mostram, se quisermos ver, que a vida tem muitas cores, e a luz que nos dá alimenta a sensação de que somos capazes de vencer qualquer barreira. A terceira vela, é o meu filho mais novo, meigo, que me dá a mão, que me pede a mão e com olhos negros radiantes me diz: vamos, que ainda temos muito caminho juntos!

Eu levanto-me hoje

Leonardo Da Vinci

Eu levanto-me hoje
Pelo poder do Céu:
A luz do Sol,
O brilho da Lua,
O esplendor do Fogo,
A rapidez do Raio,
A doçura do Vento,
A fundura do Mar,
A segurança da Terra,
A firmeza da Rocha.

Eu levanto-me hoje
Pelo poder de Deus em me guiar:
A força de Deus para me amparar,
A sabedoria de Deus para me ensinar,
Os olhos de Deus para olharem por mim,
Os ouvidos de Deus para me ouvirem,
A palavra de Deus para falar por mim,
A mão de Deus para me guardar,
O caminho de Deus para eu trilhar,
O escudo de Deus para me proteger,
O exército de Deus para me salvar
Das ciladas dos demónios,
Das tentações dos vícios,
De quem me queira mal,
Quer eu esteja longe ou esteja perto,
Só ou na multidão.

Cristo está comigo,
Cristo está à minha frente e está atrás de mim,
Cristo está em mim, Cristo está por baixo de mim e por cima de mim,
Cristo está à minha direita e à minha esquerda.
Cristo está comigo quando me deito,
Cristo está comigo quando me sento,
Cristo está comigo quando me ergo.
Cristo está no coração do homem que pensa em mim,
Cristo está nos lábios de quem fala por mim,
Cristo está nos olhos de quem me olha.

Eu levanto-me hoje
Pelo imenso poder de invocação da Trindade,
Pela minha crença em que Ele é Três,
Pela minha confissão que Ele é Um,
O Criador da Criação.

São Patrício (trechos do Grito e do Gamo)
SENHOR, Tu examinaste-me e conheces-me,
sabes quando me sento e quando me levanto;
à distância conheces os meus pensamentos.
À distância conheces os meus pensamentos.
Vês-me quando caminho e quando descanso;
estás atento a todos os meus passos.
Ainda a palavra me não chegou à boca,
já Tu, SENHOR, a conheces perfeitamente.
Tu me envolves por todo o lado
e sobre mim colocas a tua mão.
uma sabedoria profunda, que não posso compreender;
tão sublime, que a não posso atingir!
Sl 139, 1-3, 4-6