VELHOS E RABUGENTOS!
No Reino Unido há um programa de televisão que se chama Velhos Rabugentos (Grumpy Old Men). É suposto ser uma comédia, um programa de entretenimento, divertido, que nos faz rir, onde pessoas de meia-idade se queixam de tudo, desde o preço da gasolina à excessiva popularidade de programas como os Ídolos ou o Big Brother. De certa forma as suas queixas são realmente divertidas, mas passado o primeiro impacto, do riso e da piada fácil, vale a pena pensar nisso... como é que eu vou ser daqui a 10, 20 ou 30 anos? sempre a queixar-me e a ser rezingona? Muitas vezes vemos pessoas que a princípio têm uma mente esperançosa, positiva, mas que 10 anos depois (e não consigo ir mais longe, mas a tendência é a agravar-se nos 20 e 30 anos seguintes) vão perdendo as suas qualidades positivas, que foram sendo ofuscadas e subtilmente substituídas por uma propensão para a rabugice, miserabilismo e negativismo. Sempre ouvi amigas, e com certeza as suas mães antes delas, a dizer às amigas mais próximas: “se algum dia eu ficar como a minha mãe, avisem-me e internem-me!” como forma de tentar não seguir este caminho quase inevitável da rabugice... feliz ou infelizmente, são mais frequentes as vezes em que todos os intervenientes se esquecem dessas palavras, do que os internamentos efectivos! Há, obviamente, maneiras de dar a volta, é só ter vontade...
Na vida de Jesus, vemos isso vezes sem conta, em atitudes desconcertantes, até rebeldes, que nos deixam estupefactos se nos tentarmos imaginar presentes nalgumas delas: imaginar-me perto da mulher adúltera, a ver quem atira a primeira pedra... imaginar-me perto dos pescadores a quem Jesus diz para deixarem tudo e seguirem-no, a ver qual de nós deixava tudo, ou como Marta, que sempre fazendo tudo o que achava correcto, acabava por não perceber porque era a irmã quem ficava com a melhor parte... e queixou-se!
De todas as possíveis pistas para contrariar esta tendência, há algumas que escolhi para partilhar:
- Discernir: tentando fazer o exame de consciência diário, com as regras dos 4 P’s, tentemos em cada dia, escolher uma coisa para agradecer, uma coisa para pedir perdão, um propósito, e mantermo-nos fieis a este.
- Não ficar preso a rotinas: as rotinas podem ser boas e fornecer-nos uma sensação de segurança, mas ficar presos a elas faz da vida uma chatice, deixamos de nos surpreender . Se estamos sempre a queixar-nos do mesmo, tentemos mudar qualquer coisa, e se necessário obriguemo-nos a uma nova actividade, procuremos formas de ver a vida de uma nova perspectiva
- Não se exasperar com coisas das quais não temos controlo: se o preço da gasolina sobe, não há muito que possamos fazer, e por mais que nos queixemos a OPEP não vai produzir mais 10.000 barris por dia para que todos possamos ter gasolina mais barata. Tentar não deixar que a vida seja dominada pelo que não nos agrada no mundo, sem com isso ser conformista... mas no que de nós não depende, não adianta tentar controlar!
- Ter a perspectiva de uma criança: Nunca nos referimos às crianças como “olha aquele bando de crianças rezingonas, de mal com a vida” (em princípio...). É verdade que as crianças fazem birras e podem estar de mau humor, volta e meia, mas passa-lhes rápido, porque para as crianças, o mundo é simples e um sítio maravilhoso, a vida não é complicada, mas sim divertida. O problema é que como somos adultos e sofisticados, temos que ser melhores que isso!
- Deixar o criticismo para os outros: criticismo e rabugice estão intrincadamente ligados. Se passarmos o tempo todo a criticar os outros e a fofocar sobre as suas vidas, desenvolvemos seguramente uma atitude mental negativa e maior apetência por continuar a criticar mais e mais, sem que com isso nos preocupemos com a nossa própria vida, e sem com isso mudarmos o que quer que seja.
- Ser flexível: definitivamente em crise! As pessoas hoje pouco ou nada sabem de flexibilidade e o que sabem perde-se com a idade: esperamos que as coisas sejam feitas de uma certa maneira, se não são, irritamo-nos e resmungamos! Se tentarmos ser um bocadinho mais como os ramos da árvore, que balançam para poder suportar os ventos, talvez a brisa nos saiba melhor, e as tempestades não nos quebrem.
- Auto-conhecimento: procurar conhecer o nosso estado de espírito: para não nos deixarmos levar pelo negativismo.
- Atitude positiva: evitar ser miserabilista. O mais eficaz, é praticar a virtude oposta: ser positivo, procurar o lado bom das coisas, tentar estar activo e dinâmico, mesmo que para isso tenhamos que nos envolver numa nova actividade. Começar é a palavra de ordem!